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Service Level Experience (SLX): Uma Abordagem para Gestão da Experiência de Serviço

Na era da transformação digital, empresas enfrentam crescentes expectativas dos clientes em relação à qualidade e consistência dos serviços. Enquanto os Service Level Agreements (SLAs) garantem padrões mínimos de entrega, os Service Level Experience (SLX) emerge como uma abordagem centrada na experiência do cliente ao longo do ciclo de vida do serviço ou interação. Mais do que atender requisitos técnicos, o SLX busca criar valor percebido, equilibrando eficiência operacional com empatia e personalização.

A origem do SLX está intimamente ligada a insatisfação com o modelo tradicional de SLAs, que prioriza métricas rígidas ao longo de um contrato, frequentemente desconectadas da experiência real do cliente. No entanto, com a popularização de abordagens como Customer Experience Management (CXM) e Design Thinking, muitas empresas começaram a reconhecer a necessidade de integrar perspectivas técnicas e humanas.

A primeira adoção formal do termo SLX, que encontrei em minhas pesquisas, foi em 2010 em contratos de atendimento de negócios de varejo, onde a lacuna entre desempenho técnico e satisfação do cliente era mais evidente. Desde então, o conceito tem se expandido para indústrias como saúde, varejo e serviços financeiros.

Apesar de parecer um conceito complexo, a prática demonstra que o SLX é somente uma forma mais estrutura de colher feedbacks que associam experiência operacional com experiência emocional. Um exemplo dessa simplicidade é a forma que a Uber se utiliza do conceito. Desde sua expansão em 2011, a Uber mede tanto o desempenho operacional (tempo de espera, cancelamentos – o básico bem-feito) quanto a experiência do cliente (satisfação com o motorista e com a viagem), por meio de medição de percepção (avaliação pós-corrida (de 1 a 5 estrelas e comentários sobre a viagem) e impacto emocional (criando confiança e segurança ao implementar políticas claras de cancelamento e opções para resolver problemas rapidamente).


Mas o que é SLX?

SLX nada mais é que uma abordagem que combina, em contrato, métricas tradicionais de desempenho, como tempo médio de espera (TME) e tempo médio de atendimento (TMA), com indicadores mais subjetivos, como percepção do cliente e impacto emocional.


Percepção do cliente:

É mensurado por meio de ferramentas qualitativas e quantitativas, como pesquisas de CX (CES, CSAT e NPS) e análises de sentimento em canais digitais (redes sociais, avaliações online e interações com chatbots). Essas métricas avaliam como os clientes percebem a qualidade do serviço oferecido, levando em consideração aspectos como eficiência, clareza da comunicação e facilidade de resolução de problemas. Essas medições podem ser feitas por:

  • Pesquisas pós-atendimento: perguntas diretas sobre a experiência do cliente imediatamente após o contato com a empresa (CES e CSAT).

  • Feedback contínuo: implementação de widgets de opinião[1] nos pontos de interação, permitindo respostas em tempo real.

  • Análise de sentimentos: uso de algoritmos de inteligência artificial para interpretar emoções expressas em texto ou tom de voz (speech e text analytics).

  • Pesquisas temporais: pesquisas que ocorrem normalmente em tempos cíclicos de 3, 6 ou 12 meses, que além de medir o NPS, podem fazer perguntas mais objetivas em relação a qualidade de produtos e serviços e interações, com o objetivo de monitorar tendências e identificar pontos de melhoria ao longo do tempo[2].


Impacto emocional:

Análise que vai além da percepção racional do serviço, focando no efeito emocional que a interação provoca no cliente. O impacto emocional pode ser avaliado por diversos métodos, particularmente gosto de considerar:

  • Escalas de emoções: questionários que exploram o estado emocional do cliente após a interação. Normalmente é enviada via e-mail e pode ser feita de diversas formas, particularmente gosto de 2 modelos:

  • Escala expectativa-desempenho: que compara a percepção de desempenho com as expectativas prévias do cliente. Funciona perguntando o nível de expectativa (antes da interação, de forma direta ou implicita) e o desempenho percebido (após o serviço – que usualmente é a única pergunta que implanto). Por exemplo: “O serviço atendeu às suas expectativas?" com respostas variando de "1 - Muito abaixo" a "5 - Muito acima".

  • Escala importância-satisfação: que mede a importância de um aspecto da experiência e a satisfação com ele, comparando ambas as percepções. Nesse tipo de pesquisa, os respondentes avaliam (em escalas separadas) o grau de importância e a satisfação de atributos, como velocidade de atendimento, clareza na comunicação etc. Por exemplo: “Velocidade no atendimento: Importância (1-5) / Satisfação (1-5)".

  • Análise de comportamento digital: monitoramento de sinais indiretos, como a taxa de abandono de processos (indicando frustração) ou tempo de permanência em um site após o atendimento (indicando engajamento).

  • Biometria emocional: utilização de tecnologias que rastreiam expressões faciais (mais cara) ou padrões de voz e textos (mais barata) para identificar emoções em tempo real durante interações, principalmente em serviços telefônicos ou de mensagens (speech e text analytics) ou presenciais (câmeras de filmagem vinculadas a programas de IA de reconhecimento facial).


Fato é que SLXs ampliam o escopo dos SLAs ao incluir a experiência do cliente como um dos componentes centrais da avaliação de sucesso das operações de atendimento. Essa ampliação transforma os SLAs de meros contratos de entrega técnica para frameworks abrangentes que integram expectativas emocionais e subjetivas. Dessa forma, o SLX não apenas assegura eficiência operacional, mas também promove conexões mais profundas e significativas entre empresa e cliente, impulsionando a fidelização e a recomendação.

A implementação de SLX permite insights valiosos para entender a jornada do cliente de forma holística, permitindo que empresas ajustem suas estratégias para equilibrar a excelência técnica com a criação de experiências emocionalmente positivas, com consistência, intencionalidade, diferenciação e geração de valor.


Como Implementar o SLX na Prática

A aplicação do conceito de SLX exige uma abordagem estratégica que integre princípios de gestão da experiência do cliente e as métricas operacionais, permitindo uma entrega de valor que transcenda o cumprimento técnico de SLAs. O objetivo deve ser sempre de alinhar o desempenho organizacional às percepções e expectativas do cliente, assegurando uma experiência consistente ao longo do tempo, com impacto na memória do cliente. Com isso em mente, a seguir, detalho as etapas fundamentais para a implementação do SLX de forma prática, mas com rigor metodológico.


  1. Diagnóstico Inicial: Fundamentando a Análise

A fase de diagnóstico é a base para uma implementação eficaz do SLX. Lembre-se que nenhuma ferramenta por si só é a solução. Por isso, durante definições, revisões de processos e responsabilidade e escolha de sistemas e ferramentas, não se esqueça de:

  • Mapeamento de jornadas: utilizei o termo jornada aqui, mas o que realmente indico é um mapeamento do tipo blueprint da jornada, com identificação não apenas dos pontos de contato, sentimentos de memória e indicadores e métricas vinculados, mas também com interdependências entre sistemas e processos internos que influenciam a experiência percebida. Este passo requer uma análise colaborativa multifuncional, envolvendo stakeholders internos e externos.

  • Identificação de lacunas: conduza uma avaliação comparativa (sincera e honesta) entre os processos, métricas, KPIs e SLAs estabelecidos e a experiência real percebida pelos clientes. Minhas indicações nesse ponto são as utilizações de ferramentas como entrevistas em profundidade, análises qualitativos de feedback, utilização de pesquisas temporais com disciplina e correlação entre métricas e KPIs com diferentes objetivos, que são essenciais para capturar discrepâncias que muitas vezes não ficam evidentes nos dados e análises operacionais.


  1. Design de SLX: Construção de Estruturas Orientadas à Experiência

Pense agora o que é sucesso nos SLAs para você? Pensou? Então agora redefina esse sucesso incorporando dimensões qualitativas que reflitam o impacto emocional e funcional de cada interação sobre os clientes. Para isso, pense em:

  • Redefinição de acordos: o primeiro passo é expandir os SLAs para incluir objetivos centrados na experiência, como tempo de resposta emocional (quão rápido a equipe responde com empatia) e resoluções proativas. Tais métricas devem ser desenvolvidas com base em benchmarks de mercado e nas expectativas específicas do público-alvo e podem ser detectadas por meio das escutas amostrais de monitoria de qualidade e por meio speech e text analitycs associado a IA.

  • Ferramentas de feedback contínuo: parece básico, mas integrar tecnologias que permitam capturar feedback em tempo real, como pesquisas pós-interação e análise de sentimentos em redes sociais e interações ajuda muito. Essas ferramentas fornecem dados qualitativos complementares aos indicadores tradicionais que talvez em uma análise realizada manualmente não seria possível qualificar.


  1. Implementação: Traduzindo Estratégia em Ação

Como em qualquer implementação, para de fato se colocar na prática o SLX é mandatório que pessoas, processos e tecnologias estejam sincronizados para alcançar os resultados esperados. Por isso, é sempre de bom tom ter:

  • Capacitação de equipes: promover treinamentos regulares, que utilizam simulações práticas para preparar a equipe para cenários reais e que enfatizem competências como empatia, resolução de problemas e comunicação proativa, deve ser um assunto tão recorrente como mandatório.

  • Senso de pertencimentos: fomentar um ambiente de colaboração e engajamento, onde os colaboradores se sintam valorizados como parte essencial da entrega da experiência do cliente. Para isso, se apodere de iniciativas que incluam feedback contínuo, celebração de conquistas individuais e coletivas, e a criação de espaços para a participação ativa das equipes em decisões estratégicas relacionadas ao CX. Trabalhar esse ponto não apenas fortalece o vínculo emocional com a organização, mas também alinha o time aos objetivos de criar experiências memoráveis para os clientes.

  • Tecnologias avançadas: não podemos falar mais de soluções que não têm em seu “dote” soluções baseadas em inteligência artificial e análise preditiva para monitorar interações em tempo real, prever comportamentos e adaptar respostas de forma ágil. Sistemas com essas características ajudam o gestor a priorizar demandas com base no impacto potencial sobre a experiência do cliente.


  1. Monitoramento Contínuo e Ajustes Dinâmicos

O SLX é um processo iterativo que demanda monitoramento constante e ajustes baseados em dados robustos tanto operacionais, como de experiência e qualidade. Por essa razão, é imprescindível:

  • Revisões regulares: avalie o desempenho do SLX combinando análises quantitativas, como CES, CSAT e NPS e qualitativas, como análises textuais de feedback, interações em redes sociais e insumos dados por speech e text analytics. Coloque na agenda anual revisões periódicas com equipes multifuncionais para identificar pontos de melhoria e oportunidades.

  • Alinhamento contínuo: ajuste processos, ferramentas e métricas para se alinhar às expectativas em constante evolução dos clientes e dos executivos da empresa. Considere não apenas os feedbacks diretos desse público, mas também as tendências de mercado e novas tecnologias que possam impactar a experiência.

Lembre-se: implementar o SLX de forma eficiente não é apenas uma questão de adaptação técnica, mas também é uma questão de mudança cultural. Ao combinar análises profundas, práticas orientadas por dados e uma mentalidade focada na empatia junto ao cliente, as organizações podem transformar seus SLAs tradicionais em um verdadeiro diferencial competitivo, deixando de simplesmente cumprir acordos contratuais para realmente criar experiências significativas e de impacto duradouro para os clientes.


Como Contratar e Implementar SLX

A contratação e a implementação do SLX exigem um planejamento criterioso que integre conhecimento técnico, alinhamento cultural e uso de tecnologias, preferencialmente com características emergentes de IA e predição. Como o SLX representa uma evolução dos tradicionais SLAs, é importante que haja uma análise detalhada das etapas envolvidas nesse processo, bem como, consciência dos principais desafios e oportunidades.


Etapas para a Contratação do SLX


Avaliação de Fornecedores

  • O processo de seleção de fornecedores deve priorizar parceiros com histórico comprovado na integração de práticas de Experiência do Cliente (CX) a SLAs.

  • Realize due diligence aprofundada, avaliando estudos de caso, depoimentos de outros clientes e frameworks de entrega.

  • Certifique-se de que o fornecedor compreende a complexidade das métricas de CX e é capaz de adaptá-las ao seu setor e público.


Customização de Contratos

  • A personalização dos contratos deve refletir tanto os objetivos operacionais quanto os subjetivos de experiência.

  • Incorporação de KPIs subjetivos: Inclua indicadores como CES ((Customer Effort Score), CSAT (Customer Satisaction Score), NPS (Net Promoter Score) e métricas de impacto emocional.

  •  Garanta que o contrato preveja cláusulas para revisão e ajustes periódicos, possibilitando adaptações às mudanças nas expectativas dos clientes e no cenário de mercado. Minha sugestão: revisão anual, tanto das métricas e KPIs quanto das bonificações e penalizações por resultados.


Acompanhamento Contínuo

  • Estabeleça ciclos regulares de revisão para monitorar a performance e o alinhamento do SLX. Minha sugestão: em grandes operações (+ de 500 PAs), semanalmente; em médias operações (entre 150 e 499 PAs), quinzenalmente e em pequenas operações (menos de 149 PAs), mensalmente.

  • Utilize painéis de controle em tempo real (ou com atraso de até 3 horas) para acompanhar tanto dados quantitativos quanto insights qualitativos.

  • Envolva stakeholders internos e externos na análise dos resultados para identificar pontos de melhoria e novas oportunidades e gerar pertencimento em relação a experiência do cliente ofertada.


Principais Ferramentas e Tecnologias para o SLX

  • Plataformas de Gestão de CX: ferramentas como Salesforce, Zendesk, Qualtrics, Medallia e Genesys permitem monitorar a experiência do cliente ao longo de múltiplos pontos de contato, fornecendo análises integradas e acionáveis.

  • Inteligência Artificial e Machine Learning: utilizadas para análise de sentimentos, predição de comportamentos e identificação de padrões em interações. Ferramentas de IA permitem automação e personalização em larga escala, tornando o SLX mais responsivo às necessidades dos clientes.

  • Automação de Processos: a automação reduz inconsistências e acelera a resposta às demandas dos clientes. Soluções como chatbots e RPA (Robotic Process Automation) são particularmente úteis para suportar grandes volumes de interações ou agilizar processos burocráticos sistematicamente.


Pontos Críticos na Implementação do SLX

  • Cultura Organizacional: o alinhamento cultural é essencial para o sucesso do SLX. Promova treinamentos e workshops que reforcem a centralidade do cliente como pilar estratégico. Incentive a colaboração interdepartamental para assegurar que todos os níveis da organização compreendam e se comprometam com os objetivos do SLX. Tenha o nível de experiência ofertada alinhada com todas a empresa e principalmente com as pontas de contato direto com o cliente.

  • Complexidade de Métricas: a integração de indicadores quantitativos e qualitativos pode ser desafiadora. Desenvolva um framework analítico que balanceie métricas objetivas (tempo de resposta, taxa de resolução) com percepções subjetivas (satisfação, emoções do cliente). Utilize modelos estatísticos ou ferramentas como o Power BI para correlacionar essas métricas, gerando insights mais profundos.

  • Custo-Benefício: embora o investimento inicial em SLX possa ser elevado, os benefícios incluem maior retenção de clientes e fidelidade. Realize análises de ROI (retorno sobre investimento) para demonstrar o valor estratégico do SLX. Considere testes pilotos antes de uma implementação total, mitigando riscos financeiros e operacionais.

  • Gestão de Expectativas: metas claras e realistas são fundamentais para evitar discrepâncias entre as promessas e a experiência entregue. Alinhe expectativas tanto internamente quanto com os clientes, utilizando benchmarks de mercado como referência.


O Futuro do SLX como Diferencial Estratégico

O SLX transcende os paradigmas operacionais ao posicionar a experiência do cliente como um elemento importante nos acordos de nível de serviço. Sua implementação bem-sucedida requer um equilíbrio entre estratégias tecnológicas, operacionais, culturais e por que não, financeiras.

Com o avanço de tecnologias como inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e blockchain, o SLX está em constante evolução. Essas inovações oferecem possibilidades inéditas de personalização e predição, permitindo que as empresas antecipem necessidades e entreguem valor de maneira proativa. Pesquisas futuras devem explorar a integração do SLX em modelos de negócios disruptivos, avaliando não apenas seu impacto na experiência do cliente, mas também suas implicações financeiras e estratégicas.

A adoção do SLX é mais do que uma tendência; é uma necessidade para organizações que desejam se destacar em um mercado cada vez mais orientado pela experiência.

 

 

 

 

 

 

[1] Widgets de opinião são pequenos elementos interativos incorporados em plataformas digitais (como sites, aplicativos ou sistemas de atendimento) que permitem aos usuários expressarem rapidamente suas opiniões ou sentimentos sobre um serviço, produto ou interação. Eles são usados para coletar feedback em tempo real de forma prática e acessível, sem interromper significativamente a experiência do usuário.

[2] A medição cíclica é muito relevante para acompanhar a evolução do NPS e outros indicadores (comparabilidade), explorar múltiplos aspectos da experiência do cliente, como satisfação geral, percepção de qualidade e eficácia das interações (abrangência) e avaliar o impacto de mudanças ou ações específicas em períodos determinados (análise estratégica). Essa abordagem complementa outras metodologias, como pesquisas transacionais (realizadas imediatamente após uma interação), fornecendo um panorama mais estratégico e longitudinal sobre a experiência do cliente.

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